Cozinha do macho-jurubeba
(brpress) - Pela gastronomia punk, três acordes: arroz, feijão e bife. Instintos básicos, básicos instintos, como num show clássico do Fausto Fawcett. Por Xico Sá.
Xico Sá*/Especial para brpress
(brpress) – O macho não acerta mais nem o caminho do matagal para buscar a lenha dos seus assados e cozidos. À mesa, então, vê se como uma triste figura que sucumbiu a qualquer novidadismo, a qualquer molhinho de frutas exóticas e tropicais, às vezes a pretexto de uma cozinha brasileira totalmente “fake”.
Daí o presente libelo. Pela cozinha do macho-jurubeba. Pela gastronomia punk, três acordes: arroz, feijão e bife.
Instintos básicos, básicos instintos, como num show clássico do Fausto Fawcett.
Senhores mestres cucas, senhores(as) chefe metidos(as), por favor, devolvam meu arroz com feijão, tenho pressa, posso?
Devolvam meu arroz com feijão e fiquem com os seus molhos cítricos, tâmaras, figos, berinjelas, lichias…
Arroz, feijão e um bife por cima, a mistura possível. No máximo, admitimos aquele ovo estrelado para coroar o belo prato, como nos dita a memória afetiva e materna.
Pela gastronomia punk, três acordes, na pressão.
Sim, admitimos também umas batatas fritas, não mais.
Projeto Orígenes Lessa: o feijão e o sonho. Deu gorgulho na utopia mas o apetite está são e salvo.
Arroz, feijão e aquele ovinho estrelado, quente, derretendo, que nossas mães tão bem colocavam por cima de tudo, como um cobertor sobre as nossas pernas – hoje bem maiores e abestalhadas, correndo para o nada.
Chega de nouvelle cuisine, chega de gororoba pós-tudo, esse fetiche da classe média por qualquer fraude de grife.
Esses molhinhos, como diria Costinha com a sua imoral bocarra, “Noooooossa!!!”.
Qualquer canto que a gente chega, nego vem com nove-horas, até nos piores botecos já temos molhinho de fruta sobre nosso pobre bifão-roots.
Por favor, devolvam o meu pé-sujo. Devolvam o meu bife ileso, minha chuleta, minha costela, meu torresmo. Pela cozinha três acordes. Pela cozinha “faça você mesmo”. Pelo livre arbítrio da larica.
E viva o mexido, o mexidinho, o mexidão. Salve “arroz-de-puta”, o prato feito a partir das sobras completas da geladeira.
De sofisticado, apenas a buchada de bode, que de tão nobre está mais para a alta costura, estilo John Galliano, do que para a arte dos pratos.
Nesse item do cardápio, a linha que tece o bucho, que por sua vez veste os miúdos, é pura classe, manto de Penélope.
Arroz.
Feijão.
Bife.
No máximo um ovo por cima.
A harmonia estrelada, materna ou da moça que ainda acredita nos dotes. Aceita tíquete?
Chega de molhinhos enganosos. Cozinha é feito mulher: ou já vem molhadinha por desejo ou nos aplica um belo orgasmo fingido!
& MODINHAS DE FEMEA
E por falar em orgasmo, lembramos que fracassou nos EUA, definitivamente, o projeto científico de um Viagra feminino. Mulher realmente é um bicho mais sofisticado do que nós pobres e simples marmanjos.
Por esta e outras é que vos digo: O fingimento do gozo também pode ser uma prova de amor, como o amor vadio das raparigas do sexo pago; antes o fingimento do que a ausência da dramaturgia amorosa de fato; tem um quê de distanciamento brechtiano no orgasmo fingido; tem até mesmo um gozo que deveras sente; tem mais de verossímil no fingido do que em muitos ditos verdadeiros; a favor das que fingem com decência; melhor que fingir a velha dor de cabeça; contra a verossimilhança exagerada dos orgasmos com caras & bocas; a favor do agrado do teatro, puro teatro, como na canção almodovariana de La Lupe.
(*) A coluna Modos de Macho & Modinhas de Fêmea, do jornalista Xico Sá, é fornecida com exclusividade pela brpress. Fale com ele pelo e-mail: [email protected] , pelo Blog do Leitor ou pelo Twitter @brpress .